quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Reflexoes finais...breve

REFLEXÕES FINAIS

A arte moderna não nasceu como uma evolução da arte do século XIX; ao contrário, ela surgiu de uma ruptura dos valores daquele século...
O que provocou ruptura? A resposta a esta pergunta só pode ser buscada numa série de razões históricas e ideológicas (DE MICHELI, 1991, p. 5).


Dada a complexidade do assunto abordado nesta investigação, esta representa apenas um início, pois continuará ao longo de minha trajetória acadêmica em busca de conhecimento. Embora tenha encontrado algumas dificuldades para empreender a pesquisa, esta muito contribuiu para minha formação e, consequentemente, politização.
Este foi um trabalho instigante, que muito me entusiasmou e que envolveu uma abordagem interdisciplinar, pois para a sua realização busquei subsídios teóricos em referências que abordassem a História, a Dança, as Artes Visuais e as Artes Cênicas, entre outras.
Ambos os artistas, Picasso e Laban, me fizeram conhecer melhor, entender e refletir sobre os movimentos sociais, políticos, econômicos e culturais que influenciaram o grupo daqueles que fizeram as grandes mudanças ocorridas no final do século XIX, na virada do século e ao longo do século XX.
Ao mesmo tempo que foi um tempo de conquistas e invenções, o século XX também foi um século de muita violência, no qual ocorreram muitas brutalidades, massacres e fatos históricos marcantes, assustadores, como foram a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.
Após o estudo destes dois criadores e seus processos de criação, foi possível estabelecer diversos paralelos, pontos de intersecção e coincidências entre eles. Mas para realizar tal propósito foi preciso entender os movimentos históricos que fundamentaram o pensamento desta época, suas causas e conseqüências.
Foi desta forma que entendi ter sido este um período em que nas artes o estilo que dominava era o neoclássico, ou seja, era um estilo que pregava uma volta aos valores dos antigos gregos, como as leis e regras de perspectiva, do equilíbrio formal, da proporção, da simetria e do realismo.
De acordo com a Enciclopédia Ilustrada do Conhecimento Essencial (1998, p. 183), “o Realismo foi o movimento artístico francês do século XIX empenhado em pintar a vida como realmente era”. Entretanto a arte do final do século XIX e inicio do século XX, viria questionar estes princípios estéticos tradicionais, os quais eram considerados eternos, fixos, imutáveis, certos. Este era o estilo que as classes dominantes mais valorizavam.
Conscientes desse espírito, Picasso e Laban seguiram trajetórias paralelas e estiveram engajados nas mudanças de concepção, repensando, questionando e criticando conceitos. Foi neste período que começou a degradação e a decadência do caráter que a arte tinha até então. A concepção do que é arte começa a mudar e ambos os artistas procuram nas formas geométricas uma compreensão mais aprofundada da forma pictórica e da forma coreográfica.
Assim, a partir de então, toda a obra de Picasso e Laban é motivada por esse espírito de ruptura e inovação e todas as pesquisas e experiências feitas pelos dois, passam a ser o reflexo desse contexto.
Juntamente com outros artistas, Picasso e Laban captaram todo o clima de terror e opressão que as revoluções e guerras de sua época impuseram à liberdade de expressão. Assim, a arte dos dois vai contra as ideologias estabelecidas, como uma forma de protesto. Ao inspirarem-se na arte africana, além de inovarem a arte européia, eles ousaram ir contra as regras estabelecidas, pois as características da estética africana são mais populares, o que desagrada o gosto das classes dominantes, as quais só valorizavam e perpetuavam a estética inspirada no modelo clássico grego.
Com certeza, a partir das inovações propostas e sistematizadas pelos dois artistas, aqui enfocados, a maneira de pensar, agir e criar das pessoas nunca mais seria a mesma e, como conseqüência, surgiria daí um mundo e um contexto totalmente diferente daquele que se conhecia até então.
Se hoje vivemos num tempo de maior liberdade expressiva, uma parte dessa liberdade devemos a ousados criadores, como Picasso e Laban que, ao ousarem romper com os cânones estéticos clássicos, ao se libertarem das tradições e concepções artísticas do passado, moldaram a cultura contemporânea, nos legando uma nova maneira de pensar, de ver, de ler, de criar, de produzir e de apreciar a arte.
E, como este é um campo de discussão muito vasto, não foi possível ser devidamente aprofundado apenas no recorte desta investigação. De maneira que muitos outros aspectos referentes ao Cubismo e sua relação com a obra de Laban e Picasso serão retomados posteriormente.
Enfim, junto a outros vultos que fizeram a mudança no século XX, Laban e Picasso fizeram de sua arte um instrumento político e social, espelhando a realidade na qual estavam inseridos e, como disse Picasso em 1937 (In GARDNER, 1996, p. 145), em uma poderosa declaração contra a guerra civil espanhola e também como uma acusação contra o fascismo do general Francisco Franco:

Eu sempre acreditei que os artistas que vivem e trabalham com valores espirituais não podem e não devem permanecer indiferentes a um conflito em que estão em risco os valores mais elevados da humanidade e da civilização. O que vocês acham que um artista é? Um imbecil... Ele é ao mesmo tempo um ser político, constantemente sensível aos acontecimentos que laceram o coração, causticantes ou felizes... Não, a pintura não é feita para decorar apartamentos. É um instrumento de guerra para ataque e defesa contra o inimigo.

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